Coronavírus reduz procura por banana e preço no atacado cai 12% em uma semana

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Demanda represada no campo e início da colheita no Vale do Ribeira, em SP, preocupam produtores.

O início da colheita da safra de banana nanica do Vale do Ribeira em meio à fraca demanda causada pelas medidas de contenção ao coronavírus no país tem derrubado o preço da fruta tanto no campo quanto no atacado.

Após o pico de consumo registrado na penúltima semana de março, os produtores têm relatado dificuldades para escoar a produção e temem que a situação leve a uma onda de quebras financeiras na região.

Presidente da Confederação Nacional dos Bananicultores (Conaban), Jeferson Magário destaca a queda no volume de pedidos na última semana. “A maioria dos produtores está assustada e buscando a segurança de vender seu produto. Muitos não estão mais nem falando de preço com fornecedores porque, realmente, a preocupação é grande”, diz.

Produtor em Cajati (SP), no Vale do Ribeira, Marcos Monta Pontes atesta o momento de incerteza. “Os feirantes que estão liberados para trabalhar estão aproveitando para pagar barato na roça, porque sabem que está começando a encalhar mercadoria, e, na feira, como tem pouca barraca, estão apertando no preço ao consumidor”, ressalta.

Processo de lavagem e seleção das frutas na Bananas Corrêa (Foto: Emiliano Capozoli/Ed. Globo)
(Foto: Emiliano Capozoli/Ed. Globo)

Desvalorização

Segundo acompanhamento realizado pelo Cepea, o preço da caixa de 22 quilos da banana nanica no atacado da capital paulista registrou queda de 12% entre os dias 30 de março e 3 de abril, cotado a R$ 37. Já o preço pago ao produtor caiu 9,3% desde o dia 31, segundo levantamento do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA).

Para as próximas semanas, o Centro de Estudos destaca que a perspectiva é de novas desvalorizações. “Com a retomada de safra no Vale do Ribeira, vamos ter uma maior oferta e, dependendo do modo de como esse mercado estiver, esses preços realmente podem cair mais e afetar a rentabilidade do setor”, explica a pesquisadora do Cepea, Marcela Barbieri.

Produtores no prejuízo

Com 700 hectares plantados em Cajati, no interior de São Paulo, o produtor Marcos Mota Pontes relata que apenas produtores maiores, com frutas de maior qualidade, têm conseguido escoar a produção – destinada principalmente para redes varejistas.

Já os produtores menores, que dependem de feiras livres e das vendas para escolas públicas, têm visto a mercadoria acumular no campo, contribuindo para pressionar os preços da fruta. “O grande produtor tem contato direto com a rede varejista e consegue escoar. O pequeno produtor é o que está sendo mais impactado”, explica a pesquisadora do Cepea.

“Mesmo que a banana cultivada por esses produtores não acompanhe os padrões exigidos pelo mercado varejista, no apuro eles ficam ligando nos depósitos para oferecer a banana mais barato, o que acaba derrubando os preços”

 

Embora tenha conseguido realizar a venda para atacadistas, o produtor teme que o mercado consumidor mais fraco comprometa a capacidade de pagamento desses clientes, gerando aumento da inadimplência. “Essa situação vai quebrar muita gente na roça”, avalia.

Oferta crescente

Segundo Barbieri, do Cepea, as perspectivas são de uma boa produção no Vale do Ribeira neste ano, o que aumenta a preocupação do setor. Além disso, as mudanças nos hábitos de consumo durante o período de isolamento social recomendado pelas autoridades têm gerado maior inconstância nos pedidos das redes varejistas, pressionando ainda mais o mercado.

“Não adianta a gente estar autorizado a funcionar na parte de alimentação. Se os outros comércios continuam fechados, circula menos dinheiro e, consequentemente, as empresas acabam comprando menos, principalmente frutas, que são mais perecíveis”

Além do Vale do Ribeira, Santa Catarina também inicia colheita da banana nanica nos próximos meses, contribuindo para uma maior oferta nacional.

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