Como criar mexilhões

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De baixo custo, moluscos podem ser cultivados em toda a costa brasileira, sem restrições quanto ao clima e à salinidade da água.

litoral brasileiro não é apenas bonito, mas também importante fonte de riqueza econômica para o país. Do Rio Grande do Sul ao Pará, a extensa costa, de cerca de 8.000 quilômetros, conta com um grande ecossistema marinho, que gera trabalho e renda para muitas pessoas. No setor pesqueiro, as oportunidades são muitas, inclusive para os pequenos produtores.

Deixando o extrativismo, muitos pescadores tornaram-se aquicultores profissionais após se dedicarem ao manejo de moluscos bivalves, espécies que possuem duas conchas, como ostrasvieiras e mexilhões. Realizada exclusivamente por mão de obra familiar, a malacocultura é uma criação próspera e de baixo investimento, que tem Santa Catarina como seu maior produtor, seguido de São Paulo e Rio de Janeiro. A prática também é difundida em outros Estados.

como-criar-mexilhoes-molusco (Foto: Edson Junkes/ Editora Globo )

Aliás, a atividade de cultivar mexilhões (mitilicultura) pode ser adotada de norte a sul do Brasil. Os moluscos não têm restrições quanto ao clima e à salinidade da água. Contudo, deve-se evitar ambientes poluídos, como áreas que recebem o lançamento de esgotos de centros urbanos, vilas, comunidades, fábricas e outras instalações, o que provoca a morte dos animais e inviabiliza o empreendimento.

O cultivo de mexilhões destaca-se pelo seu baixo custo de implantação. Para iniciar a mitilicultura, por exemplo, não é preciso comprar sementes, como são chamadas as formas jovens dos mexilhões – o mesmo que alevino para os peixes. Elas podem ser coletadas diretamente doscostões rochosos, onde, em geral, são encontradas na natureza, ou por meio de coletores específicos lançados próximo às fazendas de cultivo.

Na etapa de engorda, em que as sementes precisam se fixar em substratos carregados de microrganismos, também são dispensados investimentos de peso. Cordas que foram descartadas por barcos de pesca são reutilizadas para servir de estrutura para a fixação dos mexilhões.

Alimentados por meio da filtragem da água do mar, os mexilhões não demandam fornecimento de ração, item que encarece qualquer criação. Para baratear ainda mais a lida com o molusco, galões de 20 litros vazios são uma opção para substituir os flutuadoresespecíficos disponíveis no varejo especializado.

A produção comercial de mexilhões é considerada uma prática importante para quem pesquisa a espécie. Embora ainda haja aqui uma quantidade grande de espécies nativas, o número de animais tem se reduzido, o que compromete a reposição dos estoques naturais. Por ser um alimento nobre e de alto valor agregado, a captura vem se deflagrando em excesso e sem controle.

Com o corpo sem esqueleto acomodado em uma concha, o mexilhão é apreciado em pratos culinários. O molusco contém proteínas, vitaminas e sais minerais.

Mãos à obra

>>> INÍCIO Apesar da existência de muitas espécies, inclusive de água doce, entre os vários gêneros de mexilhões presentes em território nacional, nem todas possuem potencial para criação comercial. Por isso, recomenda-se para cultivo a Perna perna, cuja origem é incerta. Enquanto alguns pesquisadores defendem ser nativa do litoral brasileiro, outros sugerem que tenha desembarcado aqui por meio da água usada para lastro em navios vindos da China.

>>> SEMENTES Com tamanho próximo a 3,5 centímetros, podem ser obtidas no próprio local de cultivo após a instalação de coletores no ambiente em que vivem. Até a coleta, calcula-se um período de três a quatro meses.

>>> AMBIENTE A condição da água é fundamental para o bom desenvolvimento dos mexilhões. Portanto, faça uma escolha criteriosa do local onde será instalado o empreendimento. Atenção para não negligenciar o controle da água e permitir que se acumulem metais pesados, bactérias ou vírus. Para que isso não ocorra, recomenda-se realizar um monitoramento ambiental constante nas áreas de cultivo. Vale lembrar que, como são alimentos, os mexilhões devem ter a qualidade assegurada até chegar à mesa do consumidor.

>>> FIXAÇÃO Faz parte do processo do crescimento de mexilhões. Ocorre em duas etapas, em um prazo de sete a oito meses, até o molusco atingir o tamanho comercial de 8 centímetros. Na primeira delas, se dá em substratos filamentosos e macios de cordas de 1,5 metro. Devem contar com uma camada de microrganismos naturais (biofilme) para facilitar a adesão inicial e a formação do bisso, a estrutura utilizada pelos mexilhões para se fixar. Após crescer, o molusco se desloca para um substrato mais rígido, fazendo a fixação secundária e definitiva.

>>> ALIMENTAÇÃO Mantidos submersos, os mexilhões filtram a água do mar respirando e se alimentando.

>>> REPRODUÇÃO É estimulada, em geral, por alguma mudança ambiental, como a chegada de frentes frias, que conduzem massas de águas com diferentes temperaturas e salinidades. Durante a reprodução, é possível distinguir o gênero dos mexilhões, que não apresentam diferença sexual externa (dimorfismo). As gônadas reprodutivas tornam-se laranja-avermelhadas nas fêmeas e branco-leitosas nos machos.

>>> COLETA Deve ser feita assim que os moluscos estiverem maduros sexualmente, fase em que estão mais saborosos e é percebida pelo tamanho que atingem. Comercialmente, o indicado é cerca de 8 centímetros. Popularmente, o momento ideal para a despesca é quando dizem que o mexilhão está “gordo” ou “cheio”.

Raio X

Criação mínima: 10 mil sementes
Custo: para baratear a atividade, pode-se coletar as sementes no próprio local de cultivo, reutilizar galões de 20 litros como boias flutuantes e cordas de descarte da pesca comercial para fixação dos mexilhões
Retorno: em cerca de um ano os mexilhões atingem tamanho para venda
Reprodução: especialmente estimulada por mudança de temperatura da água, devido à incidência de algumas correntes marítimas

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