Características físicas e químicas do solo sob pastagens na Amazônia Ocidental

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Características físicas e químicas do solo sob pastagens na Amazônia Ocidental

Na Amazônia Ocidental, cerca de oito milhões de hectares de florestas estão, atualmente, ocupados por pastagens cultivadas. Estima-se que quase 40% desta área apresenta pastagens em algum estágio de degradação. O declínio de produtividade, com o decorrer dos anos, deve-se a vários fatores, notadamente a baixa fertilidade natural dos solos, utilização de germoplasma forrageiro inadequado, manejo deficiente das pastagens (altas cargas animal e pastejo contínuo) e as altas pressões bióticas (pragas e doenças), o que culmina com a dominância total da área por plantas invasoras mais adaptadas às condições ecológicas predominantes na região.

As alterações que ocorrem nas propriedades físicas e químicas dos solos sob pastagem, decorrentes da utilização de elevadas pressões de pastejo, durante longos períodos de tempo, contribuem de forma significativa para acelerar os processos de degradação das pastagens. A compactação originada pelo pastejo afeta negativamente as propriedade físicas do solo, reduzindo os espaços porosos e a aeração, as taxas de infiltração e de retenção de umidade e, por conseguinte aumenta a densidade do solo. Estas características estão intimamente relacionadas com os principais fenômenos que regulam o crescimento das plantas forrageiras, ocasionando uma drástica redução na produtividade e persistência das pastagens.

A caracterização das alterações físicas e químicas do solo provocadas pela utilização das pastagens, ao longo dos anos, foi realizada numa pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu, estabelecida no município de Porto Acre, Acre. O sistema básico de manejo consistia de pastejo rotativo, com períodos variáveis de descanso, queimas esporádicas (espaçadas de três a cinco anos) e utilização de uma carga animal média de 2,0 e 1,5 UA/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco.

A disponibilidade de MS da gramínea, tanto da parte aérea quanto das raízes, foi inversamente proporcional ao tempo de utilização das pastagens, ocorrendo o inverso com relação à produção de MS das plantas invasoras. As pastagens com 4 e 8 anos proporcionaram rendimentos de forragem e de raízes equivalentes a 68 e 46% e, 68 e 40%, respectivamente, comparativamente aos fornecidos pela pastagem com 1 ano de utilização.

Os teores de nitrogênio e fósforo da gramínea não foram afetados, enquanto que os de cálcio foram reduzidos e os de potássio e magnésio incrementados com o tempo de utilização das pastagens. Os teores de fósforo e potássio, independentemente do tempo de utilização das pastagens, foram superiores aos níveis críticos internos reportados para B. brizantha. Com relação às características químicas do solo, os teores de potássio não foram afetados, enquanto que os de fósforo, cálcio, magnésio e matéria orgânica foram reduzidos, em função do tempo de utilização das pastagens, ocorrendo o inverso quanto aos teores de alumínio e o pH.

A densidade aparente foi significativamente afetada pela interação idade das pastagens x profundidade do solo. Nas pastagens com 1 e 4 anos de utilização, os maiores valores foram obtidos nas profundidades de 20-25 e 15-20 cm, enquanto que para 8 anos, já a partir de 10 cm de profundidade foram registradas maiores densidades aparentes, as quais foram semelhantes entre si. Para todas as profundidades do solo, as maiores densidades foram verificadas nas pastagens com 8 anos de utilização, exceto, para a camada de 20-25 cm, onde não se observou efeito significativo de idade das pastagens.

Em Rondônia, utiizando-se também pastagens de B. brizantha cv. Marandu, estabelecidas há 1-2; 3-5; 6-10 e mais que 10 anos, observou-se que a incorporação das cinzas decorrentes da queima da floresta proporcionou um aumento geral do nível de fertilidade do solo, o qual manifestou-se até o quinto ano de formação da pastagem. Após este período, ocorre um acentuado declinío da fertilidade, o qual se estabiliza a partir dos 10 anos. O alumínio foi neutralizado com a adição das cinzas e, mesmo após 10 anos, seus teores se mantiveram baixos, reduzindo seus efeitos tóxicos às plantas. O fósforo apresentou uma dinâmica mais acentuada nos primeiros anos, estabilizando-se num nível próximo ao da floresta primária, indicando o efeito temporal e mais rápido da cinza sobre seus teores e a necessidade de utilização de alguma forma de fertilização fosfatada para assegurar a estabilidade produtiva da pastagem. Fato semelhante ocorre com o potássio, cujos teores são reduzidos a partir do terceiro ano da formação da pastagem.

Os teores de cálcio e magnésio são incrementados e, mesmo após 10 anos de estabelecimento da pastagem, ainda permanecem superiores aos verificados no solo sob a floresta primária. Já, os teores de carbono orgânico e matéria orgânica não foram afetados, apresentando teores semelhantes entre a floresta primária e a pastagem, independentemente do período de seu estabelecimento.

As variações nas propriedades físicas e químicas dos solos sob pastagens, com o decorrer do tempo, são significtivas, contudo, para vários nutrientes, bem como para a saturação por alumínio e o pH, os efeitos são positivos e relativamente permanentes. No entanto, torna-se imprescindível a adoção de práticas de manejo que envolva a utilização de germoplasma forrageiro com baixo requerimento de nutrientes e com alta capacidade de competição com as plantas invasoras e sistemas e pressões de pastejo compatíveis com a manutenção do equilíbrio do ecossistema, de modo a assegurar a produtividade das pastagens cultivadas por longos períodos de tempo, nas áreas de floresta da região amazônica.

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