Recuperação de pastagens na Amazônia – métodos físicos

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Recuperação de pastagens na Amazônia – métodos físicos

A pecuária tem sido uma atividade pioneira na ocupação de áreas de fronteira e, nos últimos 30 anos vem sendo incrementada na região Amazônica, transformando segmentos significativos da floresta em pastagens, como conseqüência da abertura de novas estradas que propiciam condições favoráveis para a ocupação humana na região. As pastagens tem apresentado com o decorrer dos anos um declínio gradual e acentuado de produtividade, o qual está diretamente relacionado com a fertilidade e as características físicas do solo (consistência, taxas de infiltração, porosidade, textura, densidade etc.). Contudo, outros fatores também contribuem para este processo, tais como deficiências em seu estabelecimento (sementes de baixa qualidade, mal preparo do solo etc.) e a utilização de práticas de manejo inadequadas. Em geral, a utilização das pastagens cultivadas tem sido realizada sob condições de altas pressões de pastejo, associadas ao pastejo contínuo ou períodos mínimos de descanso, as quais não são compatíveis com a manutenção do equilíbrio do complexo solo-planta-animal que permita uma produtividade satisfatória da pastagem a longo prazo.

Nos primeiros anos após a formação da pastagem, normalmente, obtém-se bons níveis de produtividade animal, sendo comum uma capacidade de suporte de até 1,5 UA/ha/ano (Unidade Animal = 450 kg de peso vivo). Este comportamento é decorrente do incremento da fertilidade do solo pela incorporação dos nutrientes contidos nas cinzas proveniente da biomassa incinerada. Tal situação perdura durante por três a cinco anos após o estabelecimento da pastagem. A partir daí, há um decréscimo na produtividade de forragem e incremento na comunidade de plantas invasoras, como conseqüência da incapacidade da planta forrageira em suprir bons rendimentos em baixos níveis de fertilidade do solo. Este processo de degradação pode culminar com a inviabilidade bioeconômica da pastagem. Deste modo, torna-se imprescindível a recuperação e intensificação da utilização das pastagens cultivadas, com vistas a reduzir a expansão destas em novas áreas de floresta, além de proporcionar benefícios de ordem ecológica (preservação da floresta), econômica (custo de formação de pastagem maior que o de recuperação) e social (necessidade de mão-de-obra).

As práticas mais utilizadas para deter o declínio de produtividade das pastagens tem se restringido ao controle de plantas invasoras, através de métodos manuais, químicos ou físicos, isolados ou integrados. Estes são, geralmente, associados com queimas periódicas e seguidos de um período de descanso variável, com a finalidade de reduzir a competição da comunidade de plantas invasoras e favorecer um melhor desenvolvimento da planta forrageira. Entretanto, na maioria dos casos, mesmo um descanso prolongado das pastagens não tem proporcionado o efeito desejado, tornando-se os processos de limpeza cada vez mais freqüentes e menos eficientes, pois, geralmente, não é suficiente para que as gramineas e/ou leguminosas forrageiras recuperem seu vigor. Como as plantas invasoras são, na maioria, nativas e perfeitamente adaptadas às condições edafoclimáticas da região e, dificilmente são consumidas pelos animais, tendem a predominar no ecossistema.

Quando o principal fator da degradação da pastagem é a compactação do solo, a utilização apenas de métodos físicos pode proporcionar bons resultados. No entanto, esta prática só tem sucesso quando, paralelamente são combatidas as causas da compactação, notadamente o superpastejo. Para pastagens degradadas de Digitaria decumbens, os maiores rendimentos de forragem foram obtidos com a utilização de duas gradagens, isto como conseqüência do aumento da percentagem da gramínea na pastagem e do melhoramento das condições físicas do solo (porosidade, umidade e formação de agregados), além da redução significativa da percentagem de plantas invasoras. A utilização do arado + grade de 1.000 kg foi o tratamento mais efetivo, proporcionando um incremento de 46,1% no rendimento de matéria seca da gramínea, em relação à pastagem testemunha. Para pastagens de Brachiaria dictioneura e B. brizantha, a aração + duas gradagens ou, gradagem + aração, seguidas de três gradagens, foram os métodos mais eficientes de recuperação, aumentando em mais de dez vezes os rendimentos de forragem das gramineas, em comparação com apenas uma gradagem. A aração em faixas e a gradagem cruzada incrementaram em 203 e 148%, respectivamente, os rendimentos de matéria seca de D. decumbens, quando comparados com os da pastagem degradadada não submetida a nenhum método de recuperação.

Em Rondônia, em pastagens degradadas de B. brizantha cv. Marandu avaliou-se os efeitos de métodos físicos (roçagem, aração, gradagem, aração + gradagem) sobre a sua recuperação. Durante o período chuvoso, os maiores rendimentos de forragem da gramínea foram verificados com a gradagem (2016 kg/ha), aração (1676 kg/ha) e aração + gradagem (1346 kg/ha). As produções de matéria seca das plantas invasoras foram diretamente proporcionais a intensidade de preparo do solo, sendo os maiores valores registrados com a aração + gradagem (1203 kg/ha) e aração (1018 kg/ha). No período seco, com exceção do tratamento testemunha que apresentou o menor rendimento de MS, para os demais métodos de recuperação não se observaram diferenças significativas. Os maiores rendimentos de matéria seca das plantas invasoras foram obtidos no tratamento testemunha, com a aração e com aração + gradagem. Neste período, a disponibilidade de plantas invasoras na pastagem, comparativamente ao período chuvoso, foi reduzida em 71%. Os resultados obtidos demonstraram que a aração, gradagem e aração + gradagem foram os métodos mais eficientes para a recuperação da pastagem degradada.

No entanto, dependendo do nível de fertilidade natural do solo, em algumas situações a utilização apenas de métodos físicos pode não ser suficiente para evitar o declínio da produtividade das pastagens ainda produtivas, bem como para melhorar a produtividade ou recuperar aquelas em vias de degradação. Para pastagens de B. decumbens, o uso isolado da gradagem não proporcionou resultados positivos, os quais foram significativamente ressaltados com a aplicação de 22 kg/ha de P. A adoção de técnicas de manejo consistindo de descanso, limpeza manual, fogo, subsolagem ou gradagem, todos asssociados com a aplicação de 50 kg de N/ha, permitiram a recuperação de pastagens de Panicum maximum, enquanto que para as de B. decumbens os métodos mais eficientes foram a gradagem (uma ou duas passagens), seguida da aplicação de 22 ou 44 kg de P/ha.

A utilização de métodos físicos para a recuperação de pastagens degradadas pode ser bioeconomicamente viável, desde que sejam seguidos da adoção de práticas de manejo que envolva a utilização de germoplasma forrageiro com baixo requerimento de nutrientes e com alta capacidade de competição com as plantas invasoras e sistemas e pressões de pastejo compatíveis com a manutenção do equilíbrio do ecossistema.

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