Recuperação de pastagens – métodos químicos

0
124
Site do Café

Recuperação de pastagens – métodos químicos

No processo tradicional de formação e utilização de pastagens cultivadas na região Amazônica, após a queima da floresta, grande quantidade de nutrientes são adicionados ao solo através das cinzas, aumentando consideravelmente sua fertilidade, elevando o pH em pelo menos uma unidade e praticamente neutralizando o alumínio trocável. Nutrientes como o cálcio e magnésio se mantém em níveis bastante elevados. Em conseqüência, a saturação por bases dificilmente é inferior a 50%. O potássio permanece mais ou menos estável, em níveis satisfatórios para manter a produtividade das pastagens. A matéria orgânica e o nitrogênio permanecem em níveis aceitáveis, apesar das periódicas queimadas. No entanto, os teores de fósforo (P), a partir do quarto a quinto ano do estabelecimento das pastagens, declinam acentuadamente, até atingir níveis praticamente indetectáveis, como se verifica em pastagens com mais de dez anos de utilização. A baixa disponibilidade deste nutriente tem sido identificada como a principal causa para a instabilidade das pastagens cultivadas na Amazônia. O alto requerimento de P pelas gramíneas cultivadas, associadas com perdas pela erosão, retirada pelos animais sob pastejo e a competição que as plantas invasoras exercem, resulta na queda de produtividade e a conseqüente degradação das pastagens.

Em diversas localidades da Amazônia foram conduzidos experimentos em áreas de pastagens degradadas com o objetivo de se avaliar o efeito de macro e micronutrientes na produção de forragem de diversas gramíneas (Brachiaria decumbens, B. humidicola, B. brizantha cv. Marandu, Panicum maximum cvs. Tanzânia, Vencedor e Centenário, Pennisetum purpureum e Hyparrhenia rufa) e leguminosas forrageiras (Stylosanthes guianensis, Centrosema pubescens, Arachis pintoi, Acacia angustissima, Leucaena leucocephala e Desmodium ovalifolium). Para todas as espécies, o nutriente mais limitante foi o P, cuja ausência na adubação completa proporcionou as mais drásticas reduções no rendimento de forragem. Os efeitos de K, S, Ca e micronutrientes foram menos acentuados, embora em outros estudos a aplicação de níveis mais altos de P (150 kg de P2O5/ha) implicaram no aparecimento de sintomas de deficiência de K, sugerindo que, nesses casos, a adubação potássica possa ser necessária.

Na Amazônia Legal, resultados relevantes têm sido obtidos com a utilização da fertilização fosfatada como componente de um pacote tecnológico visando a recuperação de pastagens degradadas. Numa pastagem de P. maximum com cerca de 13 anos de estabelecida e uma biomassa vegetal contendo mais de 75% de plantas invasoras (plantas herbáceas, semi-arbóreas e arbustivas), a limpeza (roçagem), queima e adubação com 50 kg de P2O5/ha (metade na forma de superfosfato simples e metade na de hiperfosfato) reduziu a 5% a participação das plantas invasoras, em contraste com cerca de 50% quando apenas a limpeza e queima foram efetuadas.

A determinação dos níveis mais adequados da fertilização fosfatada, para a recuperação de pastagens, tem sido objetivo de diversos experimentos conduzidos na região Amazônica. Em geral, observa-se que a aplicação de pequenas quantidades de P (25 a 35 kg de P2O5/ha) resultam, em pelo menos, o dobro da produção de forragem em pastagens degradadas. Embora se verifiquem aumentos gradativos no rendimento de forragem com a aplicação de doses maiores, pelo menos a curto prazo (um a dois anos), não há necessidade de adição de quantidades superiores a 50 kg de P2O5/ha.

Na região Amazônica, predominam solos ácidos, com baixo conteúdo de P disponível e elevada saturação por alumínio e, consequentemente, apresentam alta capacidade de fixação de P, implicando em menores taxas de absorção pelas plantas forrageiras. Logo, a utilização de fosfatos de rocha, como fonte de P, surge como uma alternativa tecnicamente viável, considerando-se que sua eficiência agronômica, notadamente as taxas de dissolução, são estimuladas pela acidez do solo. Ademais, geralmente, estes apresentam menor custo unitário e maior efeito residual. Recomenda-se o uso combinado de fontes de P com alta e baixa solubilidade.

Deste modo, a fonte mais solúvel forneceria, a curto prazo, o P necessário para o rápido crescimento inicial, período crítico de competição com as plantas invasoras. A fonte menos solúvel (fosfato de rocha) liberaria o P paulatinamente, possibilitando maior persistência da pastagem. O uso tanto do superfosfato triplo como do superfosfato simples, aplicados isoladamente ou combinados entre si, e/ou em combinação com fosfato de rocha parcialmente acidulado, mostraram-se eficazes no aumento da produtividade de forragem da pastagem, ficando a escolha das fontes na dependência de seus custos. A relação 1:1, entre a fonte mais e menos solúvel, mostrou-se mais efetiva em comparação com 1:2 e 2:1.

A adubação fosfatada, ao incrementar a disponibilidade de forragem das pastagens degradadas e, consequentemente, da sua capacidade de suporte, geralmente, proporciona um melhor desempenho produtivo dos animais. No Pará, pastagens de P. maximum recuperadas com a aplicação de 50 kg de P2O5/ha e a introdução de leguminosas (P. phaseoloides, S. guiananeis e C. pubescens), apresentaram uma capacidade de suporte de 0,8 animal/ha e um ganho de peso de 191 kg/ha/ano, comparativamente a 0,4 animal/ha e 92 kg/ha/ano registrados na pastagem degradada. Em Rondônia, utilizando-se os mesmos tratamentos, pastagens recuperadas de H. rufa apresentavam um desempenho produtivo 46% superior ao da pastagem degradada (292 vs. 201 kg/ha/ano). A aplicação de 50 kg de P2O5/ha, independentemente da carga animal utilizada (1,8 ou 3,2 animal/ha), foi suficiente para incrementar significativamente a disponibilidade de forragem de pastagens degradadas de B. humidicola, a qual refletiu positivamente no desempenho animal, proporcionando maiores ganhos de peso, tanto por animal (128 vs. 166 kg/na) quanto por área (306 vs. 404 kg/ha/ano).

A fertilização fosfatada consiste numa prática indispensável à recuperação da capacidade produtiva das pastagens. Em geral, aplicações periódicas de pequenas quantidades de fósforo (25 a 50 kg de P2O5/ha), no mínimo a cada dois anos, notadamente após o quarto a quinto ano de sua implantação, resulta, em pelo menos, o dobro da produção de forragem em pastagens degradadas, com reflexos altamente positivos e significativos na capacidade de suporte e, consequentemente, no desempenho animal. No entanto, a adoção de práticas de manejo que envolva a utilização de germoplasma forrageiro com baixo requerimento de nutrientes e com alta capacidade de competição com as plantas invasoras e sistemas e pressões de pastejo compatíveis com a manutenção do equilíbrio do ecossistema, podem ser considerados como a chave para assegurar a produtividade das pastagens cultivadas por longos períodos de tempo, nas áreas de floresta da região amazônica.

Deixe uma resposta