De atendimento remoto a feiras virtuais, pandemia acelera digitalização do agro brasileiro

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Afastamento dos ambientes de negócios em razão da pandemia acelerou decisões e ferramentas on-line que conectam a produção.

Distanciamento social, quarentena, lockdown. Independentemente do nome ou do grau de rigor das medidas restritivas, o fato é que a pandemia de coronavírus isolou as pessoas. E o afastamento físico dos ambientes de convívio e de negócios parece ter acelerado a percepção de como o mundo on-line pode nos “reaproximar” e também ser cada vez mais presente nas decisões e no dia a dia das empresas.

No agronegócio, não é diferente. E vai além das videoconferências, conversas ao vivo com a participação até de autoridades. Vivendo um momento de expansão no uso de tecnologias digitais em diversos segmentos, o setor também está utilizando ferramentas para viabilizar, diante das atuais condições, a manutenção das cadeias produtivas e o contato com clientes e fornecedores.

A multinacional Nestlé, por exemplo, atualizou seu aplicativo Leiteria para prestar assistência técnica de forma remota aos seus fornecedores de leite. A empresa afirma que vai manter nesse período o compromisso de compra e captação de leite de 1,6 mil fazendas de forma direta e de outras 10 mil de forma indireta, o que envolve cerca de 20,4 mil famílias.

O aplicativo permite acompanhar e gerenciar de modo on-line os resultados relacionados à produção e ao fornecimento de leite. O trabalho de assistência técnica remota é feito a partir de um checklist de informações sobre os processos de qualidade, da mesma forma como seria feito presencialmente. O produtor envia imagens das suas instalações para a análise dos técnicos, que por sua vez fazem as observações de forma remota.

“Essa cadeia não pode parar. Temos uma responsabilidade e precisamos continuar a garantir a qualidade, e esta foi uma forma de não haver ruptura no processo. Tem sido possível manter a qualidade e um processo tranquilo e estável”, afirma Barbara Sollero, gerente de desenvolvimento de fornecedores e qualidade da cadeia de leite da multinacional.

Auditoria Virtual

A Nestlé adaptou as auditorias realizadas junto aos produtores que fazem parte do programa Boas Práticas na Fazenda (BPF). O trabalho é feito por empresas terceirizadas por meio de suas próprias ferramentas on-line. O produtor envia o material necessário para a certificadora, que faz a avaliação e a validação.“Foi adotada uma solução de auditoria remota para que o produtor possa ser recertificado. Há produtores que são de grupo de risco”, explica Barbara.

Na área de saúde animal, a Biogénesis Bagó também se adaptou. Desde o início de abril, implantou uma metodologia de treinamento on-line para suas equipes de atendimento. O trabalho é feito conciliando conteúdo produzido e organizado em módulos com a assistência remota dos instrutores. As atividades foram estruturadas em plataformas, pelas quais são feitos o acesso ao material e o contato com o tutor.

Apps e tecnologia aumentam vendas do campo (Foto: Getty Images)
Aplicativos e novas tecnologias criam novas metodologias no campo (Foto: Getty Images)

Depois de treinados, os profissionais da companhia devem retransmitir o conteúdo para parceiros, como produtores, revendedores e cooperativas, com quem têm negócios por meio de ferramentas e aplicativos já disponíveis e bastante utilizados.

Carlos Godoy, gerente de marketing, explica que a ideia é reproduzir dentro do possível a situação das visitas presenciais. Mas o conhecimento do profissional de atendimento da companhia é transmitido pelo meio eletrônico à equipe da fazenda, reunida pelo seu gestor. “Isso traz a questãode sermos cada vez mais assertivos ao levar informação de qualidade que possa resolver o problemado pecuarista”, diz o executivo.

Nascido no universo on-line, o marketplace virtual Agrofy viu na suspensão e cancelamento das mostras de tecnologia para a agropecuária uma oportunidade. Lançou uma plataforma de feiras virtuais. A intenção é permitir ao organizador levar para a plataformao conteúdo que seria exibido na exposição física. A promessa é oferecer recursos tecnológicos como tour virtual, chat de dúvidas e uso de realidade aumentada.

Inclusão digital

O manager da Agrofy no Brasil, Rafael Sant’Anna, explica que o evento é incluído no marketplace por meio de uma página exclusiva, reunindo os “estandes” virtuais. Segundo ele, as negociações no mercado brasileiro ainda estão em andamento, mas na Argentina, país de origem da empresa, já existe feiras virtuais.

“Como todos os marketplaces, temos capacidade de processar pagamentos e financiamentos em grande número. A diferença é que temos o tipo de financiamento que o agro oferece, já parametrizado para todos os nossos clientes”, explica.

Sant’Anna acrescenta que é possível fornecer um balanço dos negócios. Cada expositor teria acesso a um relatório do desempenho de vendas e os organizadores a um relatório geral.

De acordo com executivos, mudanças impostas pela pandemia de coronavírus devem permanecer. A Nestlé tende a manter o trabalho de orientação técnica remota por meio do aplicativo Leiteria, afirma Barbara Sollero.

Segundo ela, o uso das ferramentas digitais já estava nos planos, mas a implantação foi acelerada. Já as auditorias de boas práticas devem passar a combinar atuação presencial e remota. “A pandemia veio a acelerar essa inclusão digital no campo”, avalia.

Carlos Godoy, da Biogénesis Bagó, tem pensamento semelhante. Na visão dele, os treinamentos remotos otimizam recursos. A expectativa é que cada vez mais iniciativas sejam realizadas de maneira digital. “Devemos saltar de dez a 15 anos na inclusão digital dentro da porteira”, diz ele.

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