Criação de búfalos está em expansão no Ceará

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Criação de búfalos está em expansão no Ceará
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Criação de búfalos está em expansão no Ceará

A criação de búfalos está deixando de ser um hobby de grandes empresários para se tornar um negócio de grande potencial econômico. Desfazendo o mito de que o animal só se adapta a climas úmidos e com bastante água, o Ceará já possui um plantel, ainda pequeno, mas com perspectivas de crescimento. Segundo o criador paulista Nelson Bernardes Prado, há 27 anos no Ceará, existem pouco mais de dez criadores no Estado, sendo quatro com rebanhos de 300 cabeças, em média.

Por não haver uma associação de criadores, os números do plantel cearense de búfalos são imprecisos. O secretário de Desenvolvimento Rural, Pedro Sisnando Leite, revela que as estimativas apontam para um rebanho de 1,5 mil cabeças ( o bovino é de 2,4 milhões). “É uma criação muito especializada”, justifica. De acordo com ele, a vocação do Ceará ainda é a pecuária leiteira. Nelson Prado, da Fazenda Laguna, em Paracuru, que fica a 85 quilômetros de Fortaleza, tem a produção de búfalos comercialmente mais organizada, segundo o professor e pesquisador Cláudio Guimarães, do Departamento de Tecnologia de Alimentos na área de laticínios da Universidade Federal do Ceará (UFC). ” A UFC foi a única entidade a apoiar a cultura bubalina no Estado”, afirma.

Segundo Guimarães, das várias raças de búfalos, existem três que são ideais para a produção de carne e leite: a mediterrânea, a murrah e a jafarabadi. ” No Ceará, são criadas as raças murrah e mediterrânea”, conta o professor. Segundo Nelson Prado, o búfalo está presente em todas as regiões do mundo, das áreas mais desérticas às mais geladas, como é o caso da Bulgária.

O zootecnista e pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, José Ribamar Felipe Marques, doutor em melhoramento genético animal pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), diz que a espécie é originária da Índia e que, apesar de o animal ser associado à criação em pântanos e lagos, ele é criado em áreas inóspitas como o deserto de Kuth (Índia), que apresenta menos de 300mm de chuva por ano. “No Ceará, portanto, é um animal perfeitamente adaptável e, apesar de ainda haver poucos criadores, alguns já os estão inserindo em fazendas pequenas, em regiões onde a produção bovina é muito baixa”, diz.

Marques diz que, enquanto um animal bovino consegue atingir 300 quilos em quatro anos, o búfalo, com apenas 24 meses, atinge a 400 quilos. “O principal é que os rebanhos bubalinos conseguem transformar as pastagens mais pobres em proteína nobre, como carne e leite”, observa o pesquisador. Para ele, as regiões mais próximas a Fortaleza são ideais para a criação deste tipo de animal, o que poderia propiciar, segundo Marques, o desenvolvimento e até a formação de uma bacia leiteira na região. “É uma opção alimentar para as áreas mais pobres do Estado. Em Pernambuco já há esse direcionamento. Os antigos engenhos estão se transformando em fazendas de búfalos e no Maranhão e na Bahia já existe uma inserção de produtos oriundos do animal, no mercado consumidor”, revela.

Na Fazenda Laguna, onde a criação de búfalos murrah chega a 345 animais, o plantel tem 75% de fêmeas. Os machos são vendidos com 24 meses de vida, no mínimo, idade considerada ideal para o produtor. No abate, o animal deve pesar acima de 230 quilos, diz Nelson Prado que não se interessa em criar animais para corte. A Fazenda Laguna produz queijos frescal e ricota de búfala, reprodutores ou apenas o sêmen dos machos. “Ele é coletado na Central de Biotecnologia da Reprodução Animal, órgão administrado pela Universidade Federal do Pará. O material é comercializado por dose de 0,25ml, em média, podendo chegar a US$ 10,00 no mercado interno e da América latina”, diz Prado.

A proprietária da Fazenda Céu, em Uruburetama (a 108 quilômetros de Fortaleza), Rose Bernardo, diz que ela e o marido começaram a criar búfalos há 15 anos, no Maranhão. Entre 92 e 93, trouxeram alguns animais para o Ceará, mas o plantel nunca foi além de 25 cabeças. Hoje são 12 búfalos. “Chegamos a ter 150 cabeças no Maranhão. Era um hobby do meu marido mas, como ele não tinha tempo para cuidar da criação, foi se desfazendo. Hoje ele mantém apenas reprodutores”, diz Rose.

O Banco do Brasil tem um programa de financiamento chamado Pró-leite, que é voltado para a aquisição de equipamentos de conservação, pasteurização e transporte de leite. Segundo o analista da área de Pecuária do BB, João Adelman Muniz, a produção bubalina de leite pode utilizar esta linha de financiamento, com juros baixos, e com limite máximo de liberação de recursos na ordem de R$ 25 mil, por produtor.

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