Genética e rebanho seleto: a estratégia dos criadores para produzir carne mais macia

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Genética e rebanho seleto: a estratégia dos criadores para produzir carne mais macia
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VPJ importa genética angus dos Estados Unidos para produzir carne premium no Brasil.

*Publicada originalmente na edição 412 de Globo Rural (fevereiro/2020)

Selecionador e criador de gado há mais de 20 anos, Valdomiro Poliselli Junior está segmentando sua produção. Fundador da indústria frigorífica VPJ Alimentos, Valdomiro vem importando, desde meados de 2019, genética da raça angus dos Estados Unidos.

O objetivo é obter animais classificados como de alto marmoreio, a gordura entremeada nas fibras que proporciona mais maciez e suculência à carne.

“Existem algumas criações nos Estados Unidos direcionadas para isso também. Estamos buscando essa base genética, que os  norte-americanos selecionam há mais de 60 anos, para criar aqui uma nova ferramenta de produção de carne de altíssima qualidade”, explica.

Ele conta ter tomado a decisão observando o seu frigorífico. De cada lote de 100 cabeças que chega para abate, nove animais são classificados como de alto marmoreio. A intenção de Valdomiro é chegar a 50%.

Ele percebeu que, para atingir essa meta, era preciso selecionar animais que expressem melhor essa característica e, a partir do cruzamento com o nelore, obter um volume maior de carcaças meios-sangues mais marmorizadas.

“Estamos falando de tecnologia de segmentação. Vamos continuar com os dois sistemas de criação, até porque o grande volume do mercado quer touro para produzir bezerro pesado. Nosso plantel para alta performance está indo bem e começamos a formar um novo rebanho. A ideia é não misturar alta performance com alto marmoreio”, diz.

Seleção de rebanho

A fase atual do programa, chamado de VPJ Angus Marbling, é de formação do rebanho. O produtor afirma ter feito um investimento inicial de cerca de R$ 3 milhões e espera ter os primeiros touros produzindo sêmen até o final de 2021. A intenção é cruzar esses animais com vacas nelore. A expectativa é que a carne resultante desse programa chegue ao mercado entre 2023 e 2024.

Além de abastecer sua própria empresa, Valdomiro Poliselli diz que pretende comercializar essa genética no mercado. Com esse investimento, visa atender ao segmento da chamada carne gourmet, ou premium, de maior valor agregado.

Segundo ele, foi o segmento que mais cresceu nos últimos cinco anos no setor de proteína animal, semelhante a vista por outros alimentos e bedidas diferenciados.

“A demanda por carne marmorizada é cada vez maior porque é a de melhor qualidade. Estamos tendo o mesmo boom que vimos no vinho, no azeite e no café. Hoje, é o boom da carne de qualidade, e estamos focados nisso”

Valdomiro Poliselli Junior, fundador da VPJ Alimentos

Qualidade premium

A diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, diz que não apenas no Brasil, mas também no mercado internacional há consumidores interessados em carne de qualidade considerada superior.

“Assim como começamos a comprar cerveja artesanal e café premium, tem a alternativa de uma carne com maior valor agregado. O consumidor entendeu o que é um produto premium”, avalia.

Lygia recorda que, nos últimos anos, houve diversos movimentos sinalizando para essa demanda. Ela destaca o crescimento do número de estabelecimentos especializados em carne premium e iniciativas de colocação de carne angus em grandes redes de fast-food. Acrescenta ainda que houve uma resposta do consumidor à iniciativa da indústria de emplacar as marcas de carne.

“As pessoas estão querendo consumir um produto de qualidade. São sinais que corroboram com o aspecto positivo da capilaridade da carne de qualidade no consumo da população”

Lygia Pimentel, diretora da consultoria Agrifatto

Maior abate de novilhas

Outro indicativo, diz ela, é a maior participação de novilhas no abate de fêmeas, que atingiu 38,01%, segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao período de janeiro a setembro de 2019.

No mesmo período de 2018, a participação das novilhas no abate de fêmeas foi de 32%. Na mesma comparação, enquanto o abate de vacas caiu 3,32% o de novilhas aumentou 12,32%.

“O abate desses animais (novilhas) tem crescido, proporcionalmente, nos últimos cinco, seis anos e chegou a atingir um volume recorde. É um indicador de busca pela carne de melhor qualidade. A fêmea jovem tem uma carne mais macia e a novilha angus tem sido muito usada para suprir os programas de carne de qualidade”, diz Lygia.

Desafios

A consultora avalia o mercado premium como “desafiador”. Em períodos de economia menos aquecida, o menor poder aquisitivo do consumidor pode limitar a demanda pelo produto de valor mais alto.

De outro lado, diz ela, há uma clientela fidelizada, particularmente em grandes centros, que, menos atingida pela situação econômica, consegue manter o consumo e traz alguma resiliência ao segmento.

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