Rondônia investe em café robusta de alta qualidade

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Objetivo é agregar valor ao grão gourmet com “terroir” amazônico e conquistar mercados no Brasil e exterior ávidos por novidades Arábica é bossa nova, robusta é rock’n’roll, define Enrique Alves, pesquisador da Embrapa Rondônia, enquanto recebe de Bruno Assis uma
taça do legítimo “amazônia coffee”. Proprietário da Juninho Soft Café, em Porto Velho (RO), Bruno gosta de servir seu café 100% robusta em taça de vinho para mostrar ao consumidor toda a cremosidade da bebida. Enrique e Bruno são entusiastas do café robusta produzido em Rondônia e estão dispostos a provar que o canephora, a exemplo do arábica, também pode dar uma boa bebida e ser vendido como produto gourmet se
adotadas as boas práticas desde o manejo do plantio até o pós-colheita.

Quinto maior produtor de café do Brasil, o Estado vai colher nesta safra 1,870 milhão de sacas de 60 quilos em uma área de 87.600 hectares, cerca de 15% mais que na temporada anterior. Os 22 mil cafeicultores só produzem robusta, o que torna o Estado o segundo
maior produtor da espécie no país.

Bruno “descobriu” o robusta há seis anos, quando morava em Cacoal (RO), a capital do café de Rondônia. “Eu só fazia expresso com arábica, mas os turistas que visitavam a cidade queriam provar o café da região. Tomei isso como um desafio e fui visitar produtores locais. Nas lavouras, senti um aroma doce no ar e vi grãos vermelhos que
pareciam cerejas mesmo, de tão grandes. Meu pai e eu selecionamos alguns produtores que colhiam só os maduros para nós, começamos a fazer blends com arábica e logo estávamos produzindo o 100% robusta, que tem um aroma marcante, é bem cremoso, encorpado, e não tem acidez”, conta.

Um dos fornecedores da Juninho Soft Café é Anerlei Sérgio Kalk, de 40 anos. Ele nasceu em Nova Venécia (ES) e chegou a Cacoal, aos 5 anos, com toda a família. O pai, Ademar, lotou o caminhão Mercedes 1115 com a mudança, seguindo a rota de muitos cafeicultores capixabas que resolveram apostar a sorte em Rondônia no final dos anos 1970. A ideia
de Ademar era trocar o caminhão por 42 alqueires, mas o vendedor passou a perna no capixaba e só entregou 5 alqueires. “Foi uma luta. Fomos pelejando daqui e dali, morando com o meu tio. Com 12 anos, eu trabalhava a semana inteira para comprar comida”, lembra Sergio.

Os Kalk ficaram impressionados com a alta produtividade do robusta em Rondônia. Aos poucos, conseguiram comprar mais terras em Cacoal. Ele já selecionou 50 matrizes em seu jardim clonal. Hoje, ele tem 38 mil plantas em 7 hectares e consegue entre 80 e 94 sacas por hectare sem irrigação. “Melhoramos a genética do robusta, obtendo um café mais
resistente à seca. Praticamente não uso agrotóxico na lavoura, o que reduziu muito os custos de produção. Além disso, o rendimento é muito superior à média, que aumentou o espaçamento e adensou o plantio”, diz o produtor.

No ano passado, Sergio Kalk conquistou o primeiro lugar no Concurso de Qualidade do Café de Rondônia. “O concurso me pagou R$ 1.000 pela saca, quando os maquinistas pagam R$ 370, mas atualmente faço café de qualidade e não ganho mais por isso”, afirma Sergio.
As experiências de Bruno Assis no varejo e de Sergio Kalk na lavoura, aliadas às pesquisas desenvolvidas na Embrapa, apontam para um novo rumo para a cafeicultura de  Rondônia: desenvolver um café robusta gourmet no “terroir” amazônico para atender não apenas à indústria, mas também a nichos de mercado ávidos por novidades. “Os  robustas da
Amazônia são exóticos, achocolatados e especiais. São produzidos em terras acostumadas a castanhas, cacaus e cupuaçus”, diz Enrique Alves, especialista em colheita e pós-colheita da Embrapa.

Para Enrique, além das características de solo, topografia e clima, Rondônia tem a vantagem de contar com um rico patrimônio genético nas lavouras. A pesquisa busca clones com alta produtividade, tolerância a pragas e doenças, adequados a novos espaçamentos, arquitetura favorável à mecanização e boa qualidade de bebida. Desde 2010, a Cooperativa dos Produtores Rurais Organizados pela Ajuda Mútua (Coocaram), em Ji-Paraná, produz e exporta café orgânico para a Europa. As lavouras arborizadas, conduzidas por pequenos produtores da região, são certificadas e seguem as normas do “fair trade” (comércio justo).

Toda a pesquisa do café no Estado é desenvolvida no campo experimental da Embrapa em Ouro Preto D’Oeste, onde está uma das mais importantes coleções de canephora do país. Lá estão os  clones que serão lançados nos próximos anos. São os híbridos intervarietais de variedades conilon e robustas, que reúnem características estratégicas para o setor produtivo. “Queremos construir um programa de melhoramento participativo que considere o produtor não um simples usuário da tecnologia desenvolvida pela Embrapa, mas um parceiro. Cafeicultores como Sergio Kalk vêm selecionando há vários anos os materiais que mais se adaptam a suas condições de manejo e produção. Queremos compartilhar toda essa riqueza genética com o setor produtivo”, explica Enrique Alves.

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