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Quem disse que café não embebeda?

Quem disse que café não embebeda?

Quem disse que café não embebeda?

 

Quem disse que café não embebeda?

Ainda está em fase de testes, mas a primeira taça de cidra de café já foi brindada no fim da colheita de 2013 na fazenda Santa Margarida, da Martins Café, no interior de São Paulo. Ela tem 3% de teor alcoólico, “acidez presente, corpo leve e final refrescante com aromas herbáceos e cítricos”.

A descrição bate exatamente com a de uma cidra comum, feita a partir da maçã. Porém esta foi elaborada a partir da fermentação de grãos de cafés maduros. A sacada de fermentar a polpa do café para fazer bebida alcoólica surgiu de uma conversa na fazenda, em volta da fogueira, entre Mariano Martins e um cientista europeu que está trabalhando com a Martins Café em experimentos de fermentação. “De brincadeira, ele disse que o mercado de café não era tão maduro quanto o de vinho porque café não embebeda. Decidimos provar que dá para ficar bêbado de café”, diz Martins.

Prova. Mariano observa os tanques de fermentação.

Primeiro, era preciso verificar se o café tinha açúcar suficiente para gerar álcool. A ideia inicial era fazer um vinho de café, mas com os equipamentos e leveduras disponíveis a bebida alcançou teor alcoólico de apenas 3%, o que a enquadra, tecnicamente, na categoria cidra.

Não foi fácil. Antes de celebrar os louros do novo produto e brindar com a cidra da própria fazenda, os cafeicultores Mariano e Fabíola erraram bastante. E erraram feio. Do início dos testes até hoje, foram dezenas de sacas de café perdidas e um investimento de cerca de R$ 1 milhão.

Agora, com a fórmula estabelecida, espera-se uma produção de 200 litros de cidra para a colheita de 2014. O consumidor, porém, terá de esperar mais um pouco para provar a novidade. Como o processo para registrar uma nova categoria de produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é demorado, a bebida ainda não será comercializada em 2014. “Por enquanto, vamos distribuir só para os amigos e mandar algumas para degustações”, conta Fabíola.

A cidra feita de café.

Processo. Durante os testes, a cada lote, feito com pequenas quantidades de café cereja (fruto maduro), surgia uma variável inesperada que mudava o rumo do experimento.

Quando, seguros dos processos, os produtores decidiram aumentar a escala, tiveram várias surpresas. “Os parâmetros começaram a fugir totalmente do padrão. O café começou a emitir um forte cheiro de álcool e vinagre. Tentamos interromper, mas só piorou: notamos cheiro de removedor de esmalte de unha”, lamenta Fabíola. O prejuízo foi de 30 sacas de café, com 60 kg cada, ou R$ 12 mil.

De outra vez, o café de 120 sacas começou a mofar no fundo dos tanques de fermentação. Perdeu-se o controle do processo e o resultado foram grãos com aroma que lembra formol. Tudo para o lixo. Finalmente, depois de muitas sacas e horas de experiência, a cidra de café vingou. Agora, é esperar para poder comprar a bebida.