Melão desperdiçado pode ser alternativa para maçã na indústria de bebidas
Suco concentrado não possui sabor ou aroma de melão e pode ser usado como base para a produção de sucos mistos, néctares e outras bebidas
A Embrapa está propondo o uso de um suco-base de melão na indústria de bebidas como alternativa para reduzir o desperdício da fruta. O produto concentrado não possui sabor ou aroma de melão e pode ser empregado como base para a produção de sucos mistos, néctares e outras bebidas. O melão pode substituir a maçã – que é a principal matéria-prima atualmente – além de água com açúcar, servindo como uma base mais saudável.
O suco ainda pode ser muito útil para reduzir o desperdício de melão. Em 2015, as perdas chegaram a 37% do total produzido, com base no último levantamento da produção feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Boa parte do total não foi aproveitada por problemas estéticos como manchas na casca, tamanho menor que o habitual ou formato irregular. Apesar desses fatores,os melões mantêm as mesmas propriedades nutricionais.
O engenheiro de alimentos Raimundo Marcelino da Silva Neto, da Embrapa Agroindústria Tropical (CE), explica que a indústria utiliza largamente o suco-base de maçã, uma fruta de clima temperado, para a produção de néctares e outros produtos com diferentes sabores. O desenvolvimento do suco-base de melão oferece uma alternativa para o aproveitamento de uma fruta da agricultura tropical. A tecnologia foi desenvolvida em parceria com a Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), da França.
A tecnologia empregada para a produção do suco de melão também será testada em outras frutas tropicais como caju e banana. Segundo o especialista da Embrapa, é possível desenvolver diferentes produtos, combinando as tecnologias para retirar ou preservar o sabor, produzindo misturas com características desejadas.
Em 2015, o Brasil perdeu 195 mil toneladas de melão, o correspondente a 37% do total produzido, desperdício que equivale a uma área de sete mil hectares cultivados. De acordo com a Embrapa, também não é possível determinar o volume que ficou no campo, o que se perdeu no transporte, o que estragou no supermercado ou o que foi para o lixo doméstico.
No caso do melão, a grande perda ocorre na cadeia de comercialização – é a chamada perda cosmética. “Frutos com pequenas deformações e que são jogados fora porque o consumidor não vai comprar aquilo. Por causa do alto padrão de qualidade exigido pela população, muito do que é produzido é jogado fora”, explica o pesquisador na área de tecnologia pós-colheita Ebenezer de Oliveira Silva, da Embrapa Agroindústria Tropical.
Uma das estratégias da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) para redução da fome e garantia da sustentabilidade é minimizar as perdas pós-colheita de frutas e hortaliças. A outra é aproveitar o que seria perdido na indústria, o que vai ao encontro da proposta do suco-base.
Segundo Ebenezer, é necessário observar também outras possibilidades de industrialização. Já existe em alguns países o aproveitamento do melão para a produção de cremes hidratantes e protetores solares. “Uma alternativa seria descobrir quais são as substâncias ativas no melão e desenvolver insumos para a indústria brasileira de cosméticos”, propõe. O especialista alerta que existem várias possibilidades de usar melão como produto. “Mas o de maior volume, seria o suco concentrado,” afirma.
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