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Governo discute ajustes nas renegociações de dívidas rurais, diz secretário do Mapa

Governo discute ajustes nas renegociações de dívidas rurais, diz secretário do Mapa

Eduardo Sampaio Marques afirmou que foram feitas reuniões com bancos sobre a aplicação das medidas anunciadas em função da pandemia

O governo está se reunindo com instituições financeiras para promover ajustes nas medidas relacionadas ao crédito para o setor rural anunciadas em meio à crise trazida pela pandemia de coronavírus. Foi o que afirmou o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Eduardo Sampaio Marques, ao participar de uma transmissão ao vivo pela internet, promovida pela plataforma Agrosaber, neste domingo (19/4).

Neste mês, o governo autorizou a renegociação e prorrogações de parcelas de crédito de custeio e investimentos devidas por produtores rurais que tiveram suas atividades afetadas pelas medidas de isolamento social adotadas por causa do coronavírus. E produtores que sofreram perdas com a seca na região sul do Brasil também foram beneficiados com a possibilidade de repactuar seus financiamentos.

Mas representações do setor têm alertado sobre dificuldades. Em relatório divulgado no sábado (18/4), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) informou ter relatos de produtores que tiveram a repacutação dos contratos recusada pelos bancos ou que receberam ofertas de taxas de juros muito elevadas. A entidade disse ter enviado um ofício sobre o assunto ao Ministério da Agricultura.

“Tem ajustes a serem feitos, reconhecemos isso. Fizemos uma reunião com os bancos e o Banco Central na quinta-feira (16/4) e teremos uma nova amanhã (20/4)”, disse o secretário Eduardo Sampaio Marques, na conversa deste domingo, que teve como participantes o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) e o subsecretário de Política Agrícola e Meio Ambiente do Ministério da Economia, Rogério Boueri.

Etanol

Marques disse ainda que o governo trabalha para, nesta semana, trazer uma solução para a indústria de açúcar e etanol, fortemente atingida pelos efeitos da pandemia. Entre as propostas, estão a isenção temporária de PIS/Cofins sobre o etanol, aumento da Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina e o financiamento para estocagem do combustível produzido a partir da cana-de-açúcar.

Segundo o secretário de Política Agrícola, a prioridade são as questões tributárias. Eduardo Sampaio Marques argumentou que definindo a questão do PIS/Confins e da Cide, ocorrerá uma precificação do etanol. E a partir daí, seria avaliado o financimento para a estocagem.

“Vai precificar o etanol, o que é fundamental para a estocagem. Talvez o aumento necessário (da Cide) para voltar o balanceamento, seja muito alto. Mas algum aumento da Cide, mesmo que não seja o necessário, pode dar algum conforto para o setor, além do próprio governo. E a Cide ainda vai para os estados”, disse, destacando que o Ministério de Minas e Energia também trata do assunto, junto com Agricultura e Economia.

O deputado Alceu Moreira (MDB-RS) sugeriu, além das medidas já em análise pelo governo federal, a liberação de uma linha de crédito para a construção de tanques para o armazenamento do etanol. Na visão dele, não há o que chamou de “colchão de proteção” para esse setor, embora ele seja visto como estratégico para o país.

“Financia a possibilidade de construir tanques e armazenar o biocombustível para ser vendido quando ele tiver preço. Financia a possibilidade de armazenamento e também o estoque, por que, estrategicamente, nós teremos lá na frente, a oportunidade, de mais cedo ou mais tarde, colocar esse produto no mercado”, disse o parlamentar.

Moreira disse ainda que a busca por uma solução para o etanol está restrita à cadeia produtiva da cana-de-açúcar, para que atravesse a crise com o menor dano possível. Segundo ele, o etanol produzido a partir de outras fontes, como o milho, por exemplo, tem direcionamento suficiente no mercado para atravessar a situação adversa.

“A tancagem hoje seria suficiente para fazer essa política, mas a ideia, até com o Renovabio, é a de que será necessário mais etanol e, obrigatoriamente, mais armazenamento, por causa da questão de safra e entressafra”, pontuou o secretário Eduardo Sampaio Marques, do Ministério da Agricultura, para quem essa questão é mais estrutural.

“Essa quarta (tancagem), que o deputado sugeriu, vamos ver como se comporia com as outras três, mas as outras estão na mesa. Queremos dar alguma sinalização, ao menos, essa semana, ou talvez, medidas concretas”, acrescentou o subsecretário Rogerio Boueri, do Ministério da Economia.

Agro depois da crise

O deputado Alceu Moreira disse acreditar que a retomada da economia brasileira pós-pandemia passa pelo que chamou de pacto nacional pelo desenvolvimento, que envolveria estratégias dos diversos setores. O presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) avaliou que o agro sairá da crise com mais oportunidades do que tinha quando entrou. Para ele, países hoje fechados deverão procurar o Brasil para parcerias de negócios.

Do ponto de vista da política, afirmou que o momento é de construir consensos. Defendeu a aprovação da reforma tributária assim que passar a fase mais aguda da crise, em conjunto com uma reforma administrativa que reduza o tamanho e aumente a eficiência do Estado. E destacou que estão em tramitação projetos de interesse do setor  agropecuário, sobre temas como conectividade, licenciamento ambiental e agroquímicos.

“Tem lá (no Congresso Nacional) em torno de 16, 17 ou 18 partidos que não são bolsonaristas, mas que têm clareza de um projeto do Brasil que dá certo. E sobre esse projeto é possível fazer consensos. Tem que costurar esse projeto com os líderes no Congresso”, disse.

Moreira defendeu ainda a necesidade de melhorias na política de seguro rural no Brasil. Segundo o deputado, o país não tem uma legislação clara, nem mesmo um conceito claro da importância desse instrumento na avaliação do risco de crédito. Na visão dele, é preciso garantir que toda a produção financiada deve ter pelo menos uma fração coberta por uma apólice.

“Ninguém que plante com financiamento pode plantar sem seguro. E o seguro passa a fazer parte da minha planilha de custos. O seguro não é um puxadinho, que eu peguei, de R$ 1 bilhão do governo federal para patrocinar um pouco do seguro das nossas lavouras”, disse o deputado.

O secretário de Política Agrícola, Eduardo Sampaio Marques, destacou que cerca de 40% do que a agropecuária brasileira produz são exportados. Portanto, a recuperação passa pelo mercado externo e pela boa relação com os clientes internacionais. Sampaio disse ainda que a situação atual trazida pelo coronavírus acabou se sobrepondo a uma agenda de política agrícola que vinha sendo discutida e que envolvia, inclusive, medidas para o seguro rural.

“Estávamos tentando dar um arcabouço institucional mais sólido para o seguro rural. Hoje, ele ainda é muito tênue. Estamos bastante alinhados nesse sentido. Garantia de recurso para o seguro rural, em um pacote que satisfaria essa questão de desengessamento ou desvinculação de orçamento”, disse ele.

O subsecretário Rogério Boueri, do Ministério da Economia, acrescentou que é preciso estabelecer no Brasil uma cultura de seguro. E defendeu negociar com o Banco Central e as instituições financeiras uma maneira da ferramenta ser considerada como critério de viabilidade econômica de um empreendimento.

“A gente gostaria mesmo que o seguro virasse uma garantia bancária para que isso reduzisse a necessidade de capital dos bancos nos empréstimos agropecuários e, com isso, a gente conseguiria uma diminuição do spread bancário, o que reduziria consistentemente a taxa de juros que os bancos cobram nesse tipo de operação”, disse ele.

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