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Programa do Ministério do Meio Ambiente “delega” mercado de crédito de carbono ao setor privado

Programa do Ministério do Meio Ambiente “delega” mercado de crédito de carbono ao setor privado

Floresta+ Carbono prevê que empresas desenvolvam, certifiquem e auditem projetos, sem regulação do governo, mas, no empresariado, há quem diga que iniciativa é pouco eficaz

 

Lançado na quinta-feira (01/10), pelo Ministério do Meio Ambiente, o programa Floresta+ Carbono é o novo instrumento do governo federal para incentivar o pagamento por serviços ambientais, desta vez, com foco no mercado de créditos de carbono. No entanto, segundo a pasta de Ricardo Salles, são as empresas privadas que devem ser responsáveis pelo desenvolvimento de projetos de neutralização do carbono.

O Ministério já havia lançado o Programa Floresta+ em julho deste ano, e a nova modalidade “prevê a geração de créditos de carbono por meio da conservação e recuperação da vegetação nativa”, seja pelo sequestro do carbono já emitido ou do que for mantido no solo, por parte de comunidades tradicionais, populações indígenas, proprietários rurais e indústrias regionais.

Na estrutura de mercado desenvolvida pelo Meio Ambiente, as empresas devem desenvolver projetos para crédito de carbono, fazer as auditorias e certificações dos projetos, além de serem potenciais compradoras do crédito.

mercado-carbono-mma (Foto: Reprodução/MMA)
Estrutura de mercado do Programa Floresta+ Carbono, lançando pelo Ministério do Meio Ambiente (Foto: Reprodução/MMA)

Em entrevista a Globo Rural, Joaquim Alvaro Leite, secretário de Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério, esclarece que é um mercado voluntário, “focado na demanda que será gerada por compromissos corporativos de compensar emissões”. Ele justifica que o foco nas empresas se dá porque a demanda pelo mercado de crédito de carbono é majoritariamente internacional. “Cerca de 97% vem de fora do país”, assegura.

“O governo não vai intervir em preços. É um mercado regulado voluntário que vai gerar as demandas, e a gente acredita que essas demandas gerem retorno superior a US$ 10”

Joaquim Alvaro Leite, secretário de Amazônia e Serviços Ambientais do MMA

Questionado sobre qual a segurança jurídica que o Brasil apresenta para atrair investidores internacionais, ele revela que o Ministério do Meio Ambiente está articulando “um código nacional de atividade econômica em que se poderá emitir uma nota fiscal baseada em conservação de vegetação nativa”. E como se trata de um mercado voluntário, o secretário afirma que o governo não interferirá no preço a ser pago pela tonelada de carbono, que equivale a um crédito, mas “acredita que as demandas gerem retorno superior a US$ 10”.

Em relação à estrutura de negociação, o governo também não irá interferir, deixando as empresas responsáveis por isso. Leite reforça que não se trata de um modelo parecido com o CBio – crédito de descarbonização do setor de energias renováveis negociado na B3 -, pois enquanto o CBio está previsto na Lei do Renovabio, o Floresta+ Carbono  “vem de uma demanda voluntária das empresas”.

O secretário se mostra confiante ao dizer que já está prevista a entrada de R$ 1 bilhão no programa, financiado por uma única empresa. “O objetivo do Programa Floresta+ é ser o maior programa de pagamento por serviços ambientais do mundo”, diz ao indicar que, além da modalidade de carbono, ainda sejam desenvolvidos modelos de conservação da água, empreendedorismo, bioeconomia e cadeias produtivas. “Mas ainda é cedo para falar”, pondera.

FPA apoia programa

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) se mostrou favorável ao novo programa, já que agricultores que preservam o meio ambiente estão entre os beneficiários da iniciativa. “A população não quer mais esse embate entre meio ambiente e agricultura, temos que encontrar saídas. Com uma agenda positiva, conseguiremos dar apoio ao Ministério do Meio Ambiente, especialmente, em ações de conservação ambiental”, diz o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da FPA.

Também é defendida pela entidade a geração de renda extra resultado do pagamento por serviço ambiental. Para o deputado Zé Vitor (PL-MG), coordenador da comissão de meio ambiente da FPA, a conservação e preservação do meio ambiente, em especial à vegetação, só é possível por meio de ações coordenadas.

“O PSA é uma medida positiva que, quando somada a outras com o rigor das fiscalizações, a destinação de terras devolutas, as concessões florestais, a regularização fundiária e o estímulo à bioeconomia, por exemplo, alcançam grandes resultados”, defende.

Mas, nos bastidores, representantes do empresariado brasileiro afirmam ter ressalvas. Um deles, sob anonimato, disse à Globo Rural que o Programa Floresta+ Carbono é uma iniciativa inócua, à medida que não traz firmeza para que o mercado de carbono realmente se desenvolva no Brasil. “Não existe criar um mercado voluntário. Já tem muitas empresas com iniciativas de proteção, neutralizando carbono. O programa não muda nada”, diz.

Para a fonte, “o que o governo deve fazer é criar normas para regulamentar esse mercado de carbono e fiscalizá-lo”, havendo regras e integridade no uso dos créditos, pois “é preciso ter garantia que aquele crédito de carbono vá trazer benefícios ao meio ambiente a longo prazo e com isso é preciso regulamentar”.

 

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