Lucro com a preservação: é realmente possível?

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Especialistas em sustentabilidade da Fundação Espaço ECO mostram que sim, como os serviços ecossistêmicos podem valorizar a atividade agropecuária.
O Brasil é detentor de uma biodiversidade que, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), representa 20% das espécies existentes e inclui a maior reserva de água doce e a maior floresta tropical do mundo. E, mesmo possuindo clima e solos bons para a atividade agrícola em toda a sua extensão, o país possui hoje, de acordo com o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 60% do seu território coberto por vegetações nativas, em todos os biomas, e aproximadamente 53% dessas áreas estão em propriedades rurais.

A atividade agrícola vem desempenhando um papel importante nisso e, portanto, merece reconhecimento. As fazendas são protagonistas na conservação da biodiversidade e na manutenção dos serviços ecossistêmicos, que são os benefícios obtidos da natureza para o
bem-estar da sociedade, de maneira direta ou indireta, como, por exemplo, fornecimento de água, regulação do clima, matérias-primas, auxílio no controle da erosão e manutenção dos solos férteis, polinização, recreação, lazer, entre outros.

Hoje, conforme o Código Florestal, as propriedades rurais devem ter um zoneamento do uso e ocupação do solo, com áreas de Preservação Permanente (APP), de Reserva Legal (RL) e a destinada à produção agropecuária. Cada uma das zonas tem diferentes normas que devem ser seguidas. E, apesar de ter sido reduzido o espaço do produtor rural para a prática da atividade agrícola, é importante ressaltar que os recursos naturais existentes nas APPs e RLs, aliados às  boas práticas agrícolas, resultam em benefícios que, se valorados economicamente, comprovam como a conciliação da conservação ambiental e a produção agrícola são tão importantes.

Para ilustrar isso, a Fundação Espaço ECO, uma das parceiras do Prêmio Fazenda Sustentável, calculou o valor econômico do serviço ecossistêmico da área de vegetação nativa e das boas práticas de conservação de solo adotadas na Fazenda Porteira Velha, do produtorSilvino Caus. A propriedade, localizada em Pinhão (PR), foi uma das vencedoras do 3o Prêmio Fazenda Sustentável no ano passado e possui 140 hectares de vegetação nativa. “Realizando estudos de forma aproximada, identificamos que esse remanescente de vegetação estoca uma quantidade de aproximadamente 58.000 toneladas de CO2”, explica o consultor de sustentabilidade da Fundação Espaço ECO, Thiago Egydio Barreto.

Baseado no estudo da Interagency Working Group (IWG), que calcula em US$ 38 o custo social do carbono (parâmetro que representa o custo estimado dos prováveis impactos da adição de 1 tonelada de CO2 na atmosfera na produtividade agrícola, na saúde humana e na forma de danos a propriedades públicas e privadas, associados a riscos e impactos decorrentes das mudanças climáticas), Thiago avaliou que o estoque de carbono da floresta da Porteira Velha corresponde à valoração econômica de US$ 2,2 milhões.

Ao estimar o serviço ecossistêmico de regulação da erosão, desempenhado por essa floresta e as boas práticas de manejo de solo adotadas por Silvino, que contribuem num custo evitado para repor os nutrientes perdidos pelos processos erosivos que resultam em perdas de produtividade, Thiago Egydio estimou a valoração econômica em R$ 150
mil ao ano. Silvino Caus contou, em entrevista à Globo Rural, que, após adotar medidas de conservação, a água na propriedade voltou a ser abundante e nunca mais faltou.

Diferentemente das áreas urbanas, onde o asfalto não permite que a água retorne ao lençol freático e falta espaço para a ampliação de parques e florestas, a propriedade rural é protagonista para prover não somente alimentos, biocombustíveis e fibras, mas também serviços ecossistêmicos. “Em um cenário tão desafiador em relação às mudanças climáticas, se a sociedade não adotar um modelo produtivo mais harmônico, aliado à conservação de recursos naturais, faltará o básico para sobreviver, como alimentos ou água”, alerta Marcela Costa, analista de sustentabilidade da Fundação Espaço ECO.

Atualmente, segundo ela, existem tecnologias e modelos de boas práticas agrícolas que potencializam esse trabalho. “Podemos citar casos de sucesso como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), agricultura de precisão, agroflorestas, plantio direto, práticas de
conservação do solo”, diz Marcela.

Em 2016, além da Porteira Velha, também foram vencedoras a Fazenda Modelo II, que intensificou a atividade com a adoção da ILPF, e a Fazenda Primavera, que utiliza a agricultura de precisão em seus milhares de hectares cultivados com café e mogno-africano.

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