Liberação de importação de arroz não deve reverter alta no mercado interno

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Dólar em alta e valorização internacional do grão tornam preço de importação tão alto quanto os praticados no mercado interno atualmente

A liberação para a importação de 400 mil toneladas de arroz sem tarifas alfandegárias, solicitada pelo Ministério da Agricultura ao da Economia para conter a alta expressiva nos preços no mercado interno, pode não gerar os resultados esperados ou até mesmo agravar a baixa oferta do produto. Com preços em alta no mercado internacional e com o dólar em patamares recordes, o custo do arroz importado hoje no país encontra-se tão alto quando o nacional, cotado acima de R$ 100 a saca de 50 quilos.

“A liberação seria mais danosa do que benéfica porque, considerando uma safra que ainda não foi plantada e cuja intenção é de que haja aumento de área, a entrada da importação poderia desestimular os produtores a aumentar a produção gerando problemas muito mais graves no futuro”, observa Maciel Silva, coordenador de Produção Agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Ele explica que, embora o Brasil tenha aumentado em 67% suas exportações nos sete primeiros meses deste ano, enquanto as importações caíram 9,6%, a diferença na balança comercial, de 262 mil toneladas, não configura ameaça ao abastecimento interno. “Essa diferença, é menor do que aumentamos de produção. Ou seja, exportamos mais, importamos menos, mas isso não configurou num quadro de redução de disponibilidade ou de desabastecimento”, avalia Silva.

No ano-safra 2019/2020, encerrado em julho, a produção brasileira de arroz somou 11,2 milhões de toneladas, crescimento de 6,7% (ou 696,6 mil toneladas) ante 2018/2019. Mesmo assim, a cotação do grão no mercado interno registrou alta de 44,8% no período, segundo o indicador para a saca de 50 quilos no Rio Grande do Sul calculada pelo Cepea/Senar. O Estado concentra 70% da produção nacional.

Em dólar, por outro lado, o indicador para o preço do arroz encerrou praticamente o último ano-safra ano-safra em patamares próximos aos observados em julho do ano passado. Passou de US$ 11,25 para US$ 11,79 em julho deste ano. Desde então, contudo, o preço em dólar tem apresentado franca valorização e já ultrapassou a marca dos US$ 19 a saca de 50 quilos este mês, alta de 64,5% desde o início da safra 2020/2021, em julho. Em reais, os preços subiram mais de 66% nos últimos dois meses, segundo o Cepea/Senar.

“Mesmo a retirada da TEC não geraria tanto efeito nos preços praticados no mercado interno porque os preços internacionais também estão muito altos”, aponta Gabriel Viana, analista da Safras & Mercado. Ele lembra que, com o início da pandemia, os países asiáticos criaram medidas de desestímulo às exportações com receio de desabastecimento diante da valorização do grão no mercado internacional.

“O Vietnã, por exemplo, limitou as exportações para cerca de 400 mil toneladas. O Vietnã é o quarto maior exportador mundial e esse volume é muito pouco”, conta Viana. Além do Vietnã, o analista também destaca a interrupção na logística de exportação de outros países, como a Índia. “As safras não tiveram grandes quebras, mas houve muita incerteza quanto aos impactos da pandemia a longo prazo, o que levou a essas políticas para garantir o abastecimento doméstico da própria população na Ásia”.

Além de maior produtor mundial de arroz, a Ásia concentra também os maiores consumidores mundiais do grão. Alguns países do continente chegam a ter três safras ao longo do ano e a próxima delas começa a ser colhida no sudeste asiático nos próximos meses. “Foi uma temporada boa, sem previsões de quebra, o que deve dar uma sinalização de retração aos preços praticados no mercado internacional”, observa Silva.

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